Em cumprimento a agenda
Kultural/2017, a Universidade Hip Hop realizou no dia 26 de
Fevereiro no espaço Afro Kooltura o Fórum de reflexão em torno das Polémicas,
levando a discussão 3 temas que dominaram em termos de dúvidas, alguns ciclos
do nosso Movimento quer em redes sociais ou em encontros pessoais.
O
primeiro tema abordado foi sobre a polémica "RAP E NÃO RAP", uma questão que ao longo dos mais de 25
anos de Hip Hop tem sido recorrente. Despoletada inicialmente com o álbum 99%
de Amor dos SSP e que ressurgiu nos finais do ano passado com o Gueto-zouk
(Final Feliz de Eva Rap Diva Feat Landrick).
Resultante das várias
contribuições dos presentes, concluiu-se que a matriz (membrana
vertebral) da música Rap é a mesma que a do Break Beat que esteve na criação
desta cultura no final dos anos 60 e princípios dos anos 70,
determinada pelos 4 tempos (4/4) repetidos inicialmente pelo Back-to-Back e
encontrados no Boom Back, com uma sonoridade facilmente identificável
independentemente dos outros acordos harmónicos combinados. Conclui-se
igualmente que a participação de um Rapper/Emecee em uma música com
instrumentalização de outra matriz (Kizomba, Kuduro, House, etc) não a
transforma esta música em Rap nem tampouco da à este Rapper o título de
Kudurista, ou outra designação restrita aos artistas que fazem daquele estilo o
seu o estilo musical.
A abordagem do tema
estendeu-se a liberdade de criação reservado aos artistas que em momento
algum deva ser repudiada, mas deixou-se claro que esta liberdade em nada deverá
desvirtuar a matriz sonora base da musica Rap, transformando-a em outro estilo
musical e para os casos em que isto vennha acontecer, independentemente de quem
cante por cima desta sonoridade jamais deverá ser identificada como musica RAP.
O segundo tema
abordado foi a velha temática que tem sido debatida em Angola desde o final dos
anos 90 - Underground Vs Mainstream.
Onde foram recolhidas contribuições muito nutritivas entre os participantes,
onde inicialmente foram esclarecidos o facto da Kultura Hip Hop
existir de modo paralelo à sociedade comum (para muitos como uma Sub-cultura) e
que alguns termos que têm uma definição Universal ganham conotações próprias
dentro da Kultura Hip Hop e os termos Underground e Mainstream não fogem à
regra sendo que em um contexto Universal e aplicado a todas as formas de arte e
até para algumas profissões estes termos estão associados a
popularidade do artista, consumando aqueles com grande exposição
mediática Mainstream e os com pouca exposição mediática Underground.
Por outro lado, enquanto aplicação própria no
seio da comunidade Hip Hop o termo Underground aplica-se para designar o grupo
de pessoas cujo o objectivo primário cinge-se na preservação da consciência
colectiva existente (Hiphop), que remete para a contribuição ao desenvolvimento
dos seus elementos e da comunidade em que se encontra envolvido, apelando pela
justiça social, desenvolvimento do indivíduo, preservação da verdadeira
história e espiritualidade dos povos assim como a prática dos 10 elementos da
Kultura Hip Hop, estes objectivos acabam reflectidos nas suas diferentes obras.
No entanto o termo Mainstream na comunidade Hip Hop é usado para designar
aqueles artistas que possuem como objectivo primário o sucesso financeiro e ou
de popularidade, levando-os a elaborar trabalhos de venda imediata e
que de certa forma tenham uma rápida aceitação sem um senso crítico associado.
Esta fome de recursos financeiros e popularidade pode leva-los a elaborar temas
relacionados com situações sociais para reflexão colectiva com o objectivo de
abranger dentre os seus seguidores um público mais crítico.

Durante o encontro referenciou-se que apesar das
diferenças acima indicadas é possível ser encontrada boa música feita pelos
artistas identificados pelos 2 termos independente dos seus objectivos
primários.
O
terceiro tema abordado aparece a
boleia de toda polémica que envolve a música Rap "A responsabilidade social da música Rap". Para abordagem
deste tema, 1000ton Nkanzale fez a introdução referenciando a influência social
da música na educação dos povos considerando que esta (Educação) não é
reservada apenas as instituições academicamente declaradas. Esta introdução
teve a colaboração do activista Isidro Fortunato que destrinçou as 4
instituições / Métodos de Educação (Familiar, Escolar/Académica, Religiosa e
Social), prosseguiu dizendo que a educação pela música enquadra-se na educação
social ou comunitária que no caso da música Rap foi tomada de assalto pela
indústria que fez um estudo elaborado de como funcionava a música Rap no que
tange ao resgate do amor próprio, orgulho preto e elevação do ego, e por isso
com todas as ferramentas a seu favor (Mídia e poder financeiro), injectou no
seio do Movimento Hip Hop um conceito de sucesso baseado em recursos
financeiros e projecção mediática, associado ao caminho a ser trilhado para que
se atinja o "sucesso" por eles desenhado que passa pela abordagem de
temas sobre a banalização social (Festas, desrespeito as mulheres, e outros sem
qualquer responsabilidade social), este conceito que foi proliferado em quase
todas as esferas do Movimento Hip Hop com maior incidência sob a música Rap.
Após alinhamento colectivo sobre o pensamento da
perca de interesse na educação social, desenvolvimento colectivo, igualdade de
tratamento e oportunidades assim como a preservação do bem comum, foi
questionado pelo Wyma Nayobe que acções, devem ser tomadas para
reversão do quadro actual?
Para responder a pergunta foram apresentadas
várias opções, onde destacamos as seguintes:
1- Maior divulgação dos Pontos do Memorando de
entendimento do Hip Hop Nacional com destaque aos pontos 8 e 9 que fazem
referência ao compromisso social dos praticantes de algum elemento desta
Kultura e está divulgação deverá passar por uma conversa directa com aquelas
pessoas/artistas com um elevado número de seguidores;
2- Manter de forma regular, conversas
com as crianças sobre a necessidade de preservação do bem vida nas suas mais
variadas formas (Humana, Animal e Vegetal), começando nas nossas casas e
continuar os encontros comunitários para diálogos sobre a humanidade,
comunidade, África e tudo que possa contribuir no desenvolvimento individual e
colectivo.
3- Mais do que falar por via destas conversas ou
do reflexo nos textos musicais destes Emecees, existe a necessidade
de influenciar/ensinar com exemplo, com actos concretos de humanismo no
conceito ubuntu que poderão ser reproduzidos por outros actores dentro e fora
do movimento Hip Hop.
Com estes pontos de reflexão a serem postos em
acção foi dado por encerrado o fórum tendo ficado de fora os pontos de
abordagem sobre a responsabilidade actual dos Bloggers para a realidade do
movimento do HipHop Nacional e ainda sobre a polémica em torno do quão benéfico
ou maléfico é a existência dos Beefs para o nosso Movimento.
A Universidade Hip Hop agradece o espaço Afro
Kooltura por acolher o evento, assim como a todos que estiveram presente e que
contribuíram com os seus pontos de vista nos mais diferentes temas abordados.
Konhecimento é Poder!
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